Fases do desenvolvimento infantil e nutrição:

Em busca de uma alimentação adequada para cada etapa

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Esse artigo aborda a importância da nutrição desde o nascimento até a adolescência, explicando as necessidades específicas de cada fase: aleitamento exclusivo até 6 meses, introdução alimentar a partir dessa idade, construção de hábitos saudáveis na infância e atenção especial às demandas nutricionais na adolescência. Apresenta ainda os desafios atuais, como a obesidade infantil e o consumo de ultraprocessados, e defende políticas integradas de educação alimentar e acesso a alimentos de qualidade. Enfoque: crescimento, desenvolvimento e formação de hábitos alimentares.

Um pouco sobre a alimentação infantil

Mais do que garantir energia e nutrientes, uma alimentação equilibrada desde os primeiros anos de vida é um investimento em saúde futura. Bons hábitos alimentares estabelecidos na infância reduzem o risco de doenças crônicas, favorecem o desenvolvimento pleno e contribuem para a formação de vínculos afetivos e sociais saudáveis em torno da comida. Este artigo apresenta as principais etapas do desenvolvimento infanto-juvenil (0-2 anos, 2-5 anos, 6-10 anos e 11-18 anos), abordando suas necessidades nutricionais específicas e os desafios que envolvem a promoção de uma alimentação adequada em cada período.

É claro que, se tratando de nutrição infantil, nem tudo são flores. Atualmente, o desenvolvimento infantil enfrenta diversos desafios nutricionais complexos, como o duplo fardo nutricional, caracterizado pela coexistência de desnutrição, seja por deficiência de energia ou micronutrientes, e de sobrepeso ou obesidade, ainda por cima em populações mais vulneráveis.

A insegurança alimentar também é um problema significativo, com muitas crianças tendo acesso irregular ou insuficiente a alimentos de qualidade, seja por condições econômicas e sociais, ou falta de introdução alimentar proveniente dos pais. Além disso, fatores como a urbanização, a globalização alimentar e o marketing intenso de produtos ultraprocessados influenciam as preferências alimentares desde cedo, muitas vezes de forma negativa.

Por fim, a falta de educação alimentar efetiva em escolas e comunidades limita a capacidade de crianças e famílias adotarem hábitos saudáveis, perpetuando padrões inadequados de alimentação. Uma nutrição adequada em cada fase do desenvolvimento infantil não é apenas importante para o crescimento físico, mas para o pleno desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Políticas públicas, famílias, educadores e profissionais de saúde têm papel crucial para garantir que crianças e adolescentes recebam alimentos nutritivos, ambientes favoráveis e informação. Investimentos em educação nutricional, alimentação escolar de qualidade e acessibilidade alimentar são essenciais.

O desenvolvimento infantil é um processo contínuo e complexo que envolve transformações físicas, cognitivas, emocionais e sociais, moldando as bases de toda a trajetória de vida. Desde o nascimento até a adolescência, cada fase representa uma oportunidade única para promover saúde, aprendizado e bem-estar. Nesse percurso, a nutrição exerce papel essencial: fornece os nutrientes necessários para o crescimento adequado, fortalece o sistema imunológico e influencia diretamente o desempenho cognitivo e o equilíbrio emocional.

Fase 0-2 anos (primeira infância)

- A partir de seis meses, introdução alimentar complementar de forma gradual, respeitando sinais de prontidão da criança, com alimentos seguros, variados, amassados ou em pedaços pequenos.

- Atenção especial aos micronutrientes críticos: ferro, vitamina A, zinco, pois sua deficiência pode levar a anemia, atraso de crescimento linear e impacto cognitivo.

- Aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida. É considerado o padrão-ouro por fornecer todos os nutrientes necessários, proteger contra infecções, promover desenvolvimento imunológico e favorecer vínculo mãe-filho.

Fase 2-5 anos (pré-escolar)

- Introduzir variedade de alimentos, incluindo frutas, hortaliças, grãos integrais, leguminosas, ovos, carnes magras. Limitar açúcares adicionados e alimentos ultraprocessados.

- Formação de hábitos alimentares, preferências de sabor, texturas, pois a exposição repetida a alimentos saudáveis pode moldar preferências duradouras.

- Crianças crescem mais lentamente que nos primeiros dois anos, mas ainda têm necessidades altas per quilo de peso. Boa ingestão de energia (calorias adequadas), proteínas de qualidade, lipídeos essenciais (incluindo ômega-3), vitaminas e minerais é fundamental.

Fase 6-10 anos (escolar)

- Necessidades energéticas aumentam com crescimento corporal, atividade física escolar e social. Macronutrientes adequados: proteína, carboidratos de qualidade, gorduras saudáveis. - Micronutrientes importantes: ferro, cálcio, vitamina D (para ossos), vitaminas do complexo B, iodo. - Ambiente escolar influencia fortemente: merenda, lancheira, alimentação fora de casa. Políticas de alimentação escolar (cardápios balanceados), educação nutricional e restrição de ultraprocessados são cruciais.

Fase 11-18 anos (adolescência)

- Período de rápido crescimento físico, maturação sexual, mudanças hormonais, aumento da massa muscular e óssea. Necessidade energética e proteica aumentadas para suportar esses processos. - Atenção especial à ingestão de ferro, principalmente em meninas menstruadas; ao consumo de cálcio e vitamina D para suporte ósseo; de gorduras saudáveis (ômega-3) para saúde cardiovascular e cerebral; de fibras para saúde intestinal. - Riscos crescentes de adoção de dietas inadequadas, pressão estética, consumo de ultraprocessados, bebidas açucaradas, uso de suplementos sem orientação. A educação nutricional nessa fase deve considerar autoconceito, imagem corporal, mídia e cultura.
DS

Daniela Stier

Redatora | Colunista MindSaúde

Daniela Stier, redatora e colunista para MindSaúde, também trabalha com escrita criativa e revisão textual