Entre o pastel e o prato:

O consumo de salgados e comidas populares no Brasil

10 min

Pesquisa nacional revela que salgados fritos e outros alimentos rápidos estão substituindo refeições completas e acendendo o alerta sobre saúde e hábitos alimentares.

Uma mudança à mesa

De norte a sul do país, é difícil resistir ao pastel crocante, à coxinha dourada ou ao pão de queijo quentinho. Mas esses ícones da culinária popular brasileira vêm ganhando outro papel: substitutos das refeições principais. Segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade dos brasileiros consome salgados fritos ou prontos regularmente e, para muitos, eles deixaram de ser lanche para virar almoço.

A tendência se intensificou após a pandemia, quando o aumento dos preços dos alimentos levou parte da população a buscar opções mais baratas e rápidas. Um estudo da Kantar em 2024 mostrou que o consumo de salgados prontos cresceu 28% em um ano, sobretudo entre as classes C, D e E. A substituição do tradicional “prato feito” (arroz, feijão e carne) por salgados empanados ou industrializados é motivada tanto pela conveniência quanto pelo custo.

Alimentação urbana e rotina acelerada

De norte a sul do país, é difícil resistir a um pastel crocante, a uma coxinha dourada ou a um pão de queijo quentinho. Mas esses ícones da culinária popular brasileira vêm ganhando outro papel: o de substitutos das refeições principais.

Segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade dos brasileiros consome salgados fritos ou prontos regularmente e, para muitos, eles deixaram de ser lanche para se tornar almoço.

A tendência se intensificou após a pandemia, quando o aumento dos preços dos alimentos levou parte da população a buscar opções mais baratas e rápidas. Um estudo da Kantar, em 2024, mostrou que o consumo de salgados prontos cresceu 28% em um ano, sobretudo entre as classes C, D e E. A substituição do tradicional “prato feito”, ou seja, arroz, feijão e carne, por salgados empanados ou industrializados é motivada tanto pela conveniência quanto pelo custo.

A solução é parar de comer?

Os salgados fritos são, em geral, ricos em gorduras saturadas, sódio e aditivos. Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira (Ministério da Saúde, 2023), o consumo frequente de alimentos ultraprocessados está diretamente relacionado ao aumento de casos de obesidade, hipertensão e diabetes tipo 2.

Um estudo conduzido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2022 analisou hábitos alimentares de 4.500 adultos e constatou que pessoas que consumiam frituras três ou mais vezes por semana tinham 35% mais risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Além disso, frituras realizadas em óleo reutilizado, prática comum em estabelecimentos populares, favorecem a formação de substâncias tóxicas, como a acroleína, associada a inflamações e envelhecimento precoce.

Apesar dos riscos, os salgados têm um papel cultural importante. Eles representam a sociabilidade brasileira: a pausa do café com o amigo, o lanche na feira ou a festa de família. Em muitas regiões, como o Nordeste e o Sudeste, receitas tradicionais se misturam a influências locais, criando um patrimônio gastronômico que vai além da nutrição.

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A mudança de hábitos não precisa eliminar o prazer. Nutricionistas recomendam moderação e substituições inteligentes: optar por versões assadas, diminuir o consumo de refrigerantes e frituras, e incluir frutas e verduras nas outras refeições. Algumas padarias já adotam alternativas mais leves, usando óleo de girassol, farinha integral e redução de sal. Para o poder público, o desafio é reforçar campanhas de educação alimentar e incentivar a produção local de alimentos frescos. A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) propõe ampliar o acesso a alimentos in natura e promover a revalorização do ato de cozinhar, mas enfrenta o desafio da vida moderna e da indústria ultraprocessada.

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Os salgados e frituras são parte da identidade brasileira, mas o aumento de seu consumo cotidiano reflete mudanças sociais profundas. A busca por praticidade e economia tem custado a qualidade nutricional e a saúde da população. Manter a tradição, sem abrir mão do equilíbrio, é o desafio atual: preservar o sabor e o afeto dos salgados, mas com moderação e informação.
DS

Daniela Stier

Redatora | Colunista MindSaúde

Daniela Stier é redatora é colunista da equipe MindSaúde, também trabalha com revisão, leitura crítica e escrita criativa