Pesquisas brasileiras e internacionais alertam para os impactos ambientais e possíveis riscos à saúde humana do glitter usado em confeitaria e decoração de alimentos.
Um brilho em tudo… até no prato!
O chamado “glitter alimentício”, o pó cintilante usado para decorar bolos, doces e bebidas é vendido como inofensivo, entretanto, parte dos produtos disponíveis no mercado brasileiro não é realmente comestível. Muitos são feitos de plástico e alumínio, e acabam sendo ingeridos ou descartados de forma inadequada, transformando-se em microplásticos que contaminam o meio ambiente e, potencialmente, o corpo humano. Estudos realizados pelo grupo mostraram que o glitter é capaz de se fragmentar em partículas ainda menores, os chamados nanoplásticos, que podem ser absorvidas por organismos aquáticos e incorporados à cadeia alimentar.
A confusão começa na prateleira. No Brasil, há produtos vendidos como “glitter alimentício” e outros como “glitter decorativo”. Nesta última semana de Outubro, o criador de conteúdo digital Dario Centurione, dono do perfil “Almanaque S.O.S”, postou uma série de vídeos de reportagem a respeito dos glitters utilizados em alimentos, onde comprou produtos ditos como “comestíveis” que eram, por fim, puro plástico. Após bombar nas redes sociais e pegar muitos consumidores e confeiteiros, de surpresa, o assunto ganhou força através de um movimento on-line.
Outra criadora de conteúdo, Ana Duarte, chegou a comprar duas marcas de glitter, uma vendida no setor comestível e outra no setor de decoração para comparação de ambas na lente do microscópio. A surpresa? Ambas eram iguais em cor e composição.
A rotulagem, no entanto, nem sempre é clara, e muitos consumidores acabam utilizando o produto de forma indevida em alimentos. É importante ressaltar que produtos contendo PET ou PP micronizado não devem ser consumidos, ainda que estejam dispostos para venda no setor de alimentos. Além disso, observa-se que algumas marcas de glitter comercializadas em setores alimentícios divulgam, em suas próprias redes sociais, a aplicação do produto em comidas, como bolos, cupcakes e donuts, o que pode induzir o consumidor a erro.
Nem todo glitter é comestível!
O glitter é um símbolo pequeno de um problema muito maior: a crise global dos microplásticos. Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), mais de 11 milhões de toneladas de plásticos entram nos oceanos, anualmente, e parte significativa vem de produtos de uso cotidiano como cosméticos, roupas e artigos decorativos.
No Brasil, os microplásticos já foram encontrados em amostras de água potável, sal marinho, peixes e até no ar urbano de grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro. Pesquisadores alertam que o acúmulo dessas partículas pode afetar o funcionamento hormonal, provocar inflamações e interferir no metabolismo humano, embora os efeitos diretos ainda estejam em estudo.
Além do risco ambiental, há também um impacto econômico. Muitas docerias e confeiteiros que usam glitter decorativo desconhecem a origem do produto. Além disso, não têm acesso a versões biodegradáveis, que são mais caras e escassas no mercado brasileiro. A falta de regulamentação desses alimentos e os rótulos enganosos incentivam a compra de forma irresponsável.
Caminhos Sustentáveis
A conscientização dos consumidores também é essencial. Docerias e confeiteiros podem verificar se o produto é certificado como comestível e evitar o uso de itens com polietileno ou alumínio. Pequenas mudanças como priorizar cores naturais e decorações à base de açúcar ajudam a reduzir a poluição invisível.