O lado doce da vida:

Prazer, tradição e equilíbrio à mesa.

06 min

Mais do que vilões da dieta, os doces podem ter espaço em uma rotina equilibrada. Nutricionistas defendem o resgate do prazer, da cultura e da moderação no consumo.

Formigueiro de sensações:

Segundo a antropóloga alimentar Raquel Rachid, da Universidade Federal do Paraná, os doces desempenham um papel central na identidade alimentar brasileira: “O açúcar sempre esteve ligado à celebração, à partilha e à memória”. Do quindim nordestino ao sagu do Sul, as sobremesas contam histórias e aproximam pessoas. Essa dimensão emocional também tem reflexos positivos sobre o bem-estar. Estudos da Universidade de São Paulo (USP) mostram que o consumo consciente de alimentos prazerosos, incluindo doces, pode reduzir o estresse e melhorar o humor, especialmente quando associado a momentos de convívio social.

No imaginário brasileiro, o doce é sinônimo de afeto. Está na lembrança do bolo de aniversário, no cheirinho do pudim de leite e nas sobremesas que atravessam gerações. Embora o excesso de açúcar seja um risco real à saúde, os especialistas afirmam que não é necessário eliminar completamente os doces: o segredo está em equilibrar prazer e moderação, preservando o valor simbólico e afetivo desses alimentos. Com pequenas mudanças, tais como: reduzir quantidades e priorizar receitas caseiras. Ou seja, é possível manter o sabor doce da vida sem culpa!

O que diz a ciência sobre o prazer de comer?

Além disso, estudos recentes publicados no Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics mostram que pessoas que mantêm uma alimentação equilibrada, incluindo pequenas porções de sobremesa, apresentam maior adesão a longo prazo às dietas saudáveis do que aquelas que tentam eliminá-las completamente.

A nutricionista funcional Alessandra Luglio lembra que o sabor doce ativa áreas do cérebro ligadas à liberação de dopamina e serotonina, neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer. Isso explica por que uma sobremesa pode ajudar a relaxar ou até amenizar a ansiedade. O problema surge quando o doce é usado como compensação constante, e não como parte equilibrada da rotina. “Não há motivo para demonizar o açúcar, mas é importante consumir com consciência e qualidade. Um brigadeiro artesanal é diferente de um produto ultraprocessado com conservantes e gorduras hidrogenadas”, afirma Luglio.

Doce com propósito: novas tendências

Hoje, já é comum encontrar receitas que utilizam frutas secas, mel, tâmaras, castanhas e cacau puro como alternativas. A confeitaria funcional, aquela que combina sabor e equilíbrio, tem ganhado espaço em cafés e restaurantes de grandes capitais, mostrando que é possível adoçar a vida de forma mais natural e nutritiva.

O mercado de confeitaria saudável vem crescendo no Brasil, impulsionado por consumidores que buscam prazer com menos culpa. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), as vendas de doces com menor teor de açúcar, sem lactose ou com ingredientes naturais aumentaram mais de 30% entre 2022 e 2024.
DS

Daniela Stier

Redatora | Colunista MindSaúde

Daniela Stier é Redatora e Colunista da equipe MindSaúde, também trabalha com revisão, leitura crítica e escrita criativa.