Novembro Azul e nutrição:

como a alimentação pode ajudar na prevenção e no tratamento do câncer de próstata

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Novembro Azul reúne, anualmente, campanhas de prevenção da saúde masculina, destacando para o câncer de próstata, e promove uma agenda de autocuidado que vai além dos exames: a alimentação saudável aparece como aliada tanto na prevenção quanto no suporte ao tratamento. Nesta reportagem, a equipe de redação do MindSaúde reuniu evidências científicas, recomendações de autoridades de saúde e orientações práticas para que leitores entendam como escolhas alimentares podem influenciar o risco, a progressão e a qualidade de vida de homens com diagnóstico de câncer de próstata.

O panorama: por que Novembro Azul conversa com a nutrição

O Novembro Azul nasceu como movimento de conscientização sobre a saúde do homem, enfatizando prevenção, diagnóstico precoce e atenção integral. Nos últimos anos o enfoque expandiu-se: além do rastreio e dos exames, gestores e profissionais de saúde têm colocado ênfase em fatores de risco modificáveis, entre eles dieta, obesidade, sedentarismo e consumo de álcool. Isso transforma a campanha num convite não só para checar exames, mas para revisar hábitos alimentares e de vida!

Mas… o que a ciência diz sobre alimentação e risco de câncer de próstata?

- Obesidade e excesso de peso: evidências associam excesso de peso a doença mais agressiva e piores desfechos no câncer de próstata: controlar peso corporal é, portanto, uma recomendação consistente.

- Carnes vermelhas e processadas: consumo elevado de carnes processadas e, em parte, carnes vermelhas tem sido associado a maior risco para vários tipos de câncer; as orientações nacionais e internacionais insistem na moderação.

- Frutas, hortaliças e padrões alimentares protetores: dietas ricas em frutas, verduras, legumes, grãos integrais e leguminosas, além de pobres em produtos ultraprocessados, estão associadas a menor risco de desenvolvimento e progressão de vários tipos de câncer, incluindo evidências que sugerem benefício na saúde prostática.

Importante: há linhas de pesquisa sobre compostos específicos (como licopeno e alguns fitoquímicos de crucíferas) e sobre vitamina D, mas os resultados são heterogêneos; por isso as recomendações se orientam para padrões alimentares saudáveis (e não para “alimentos milagrosos”).

Pesquisas brasileiras e revisões internacionais apontam que nenhum alimento isolado determina com certeza o aparecimento do câncer de próstata, mas padrões alimentares influenciam o risco e a evolução da doença. Três grupos de achados merecem destaque:

Principais alimentos e nutrientes: o que priorizar e o que reduzir

1. Priorize: vegetais, frutas, leguminosas e grãos integrais Vegetais e frutas fornecem fibras, vitaminas (C, folato), minerais e fitoquímicos com ação antioxidante e anti-inflamatória. Estudos observacionais brasileiros apontam associação entre maior consumo desses grupos e melhores indicadores em populações com câncer de próstata. Além disso, o aumento do consumo de leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico) melhora a qualidade da dieta e auxilia no controle glicêmico e de peso.

2. Limite: carnes processadas e excesso de carne vermelha Produtos como salsicha, bacon, presunto e embutidos são classificados por organismos internacionais como associados a risco aumentado para alguns cânceres; além disso, métodos de cocção em altas temperaturas podem gerar compostos potencialmente lesivos. A orientação prática é reduzir a frequência desses produtos e, quando consumi-los, preferir cortes magros e métodos de preparo mais suaves.

3. Controle o peso e o consumo de bebidas alcoólicas Obesidade está relacionada a maior agressividade do tumor e piores desfechos; o controle do peso por meio de alimentação balanceada e atividade física é uma medida de prevenção e de suporte ao tratamento. O consumo excessivo de álcool também é associado a maior risco de vários cânceres, por isso, a moderação é sempre recomendada.

4. Compostos em destaque: licopeno e crucíferas (e o que a ciência diz) Alguns estudos sugerem que o licopeno (tomate e derivados) e compostos de crucíferas (brócolis, couve-flor, couve) podem exercer efeitos protetores em modelos experimentais e observacionais; contudo, provas de benefício em estudos clínicos randomizados ainda são insuficientes para recomendações de suplementação indiscriminada. A recomendação prática é incluir tomates cozidos e crucíferas regularmente na dieta como parte do padrão saudável.as e grãos integrais Vegetais e frutas fornecem fibras, vitaminas (C, folato), minerais e fitoquímicos com ação antioxidante e anti-inflamatória. Estudos observacionais brasileiros apontam associação entre maior consumo desses grupos e melhores indicadores em populações com câncer de próstata. Além disso, o aumento do consumo de leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico) melhora a qualidade da dieta e auxilia no controle glicêmico e de peso.

5. Vitamina D: atenção, mas sem conclusões definitivas Há pesquisas apontando associação entre níveis de vitamina D e risco/prognóstico de câncer de próstata, mas os resultados não são conclusivos o suficiente para indicar suplementação universal. Avaliação médica e orientação nutricional individualizada são indicadas.

Nutrição durante o tratamento: adaptar, não improvisar

No contexto do tratamento oncológico (cirurgia, radioterapia, hormonioterapia), a nutrição assume papéis distintos: manter massa magra, controlar efeitos colaterais (fadiga, náusea, problemas gastrointestinais), e minimizar perda de qualidade de vida. Uma equipe multiprofissional, composta por nutricionistas, médicos e profissionais especializados em atividades físicas, é recomendada para adequar calorias, proteínas e micronutrientes segundo a fase do tratamento. Além disso, também é prudente evitar suplementações sem orientação, pois, além de não comprovadas, podem interagir indevidamente com terapias.

Novembro azul no Brasil: como o SUS e instituições brasileiras estão integrando nutrição nas ações de prevenção ao câncer de próstata.

Programas e materiais informativos do Ministério da Saúde e de órgãos estaduais têm ampliado a divulgação de mensagens que conectam autocuidado, exames e estilos de vida saudáveis, incluindo alimentação e atividade física, como estratégias complementares à detecção precoce. Em campanhas locais, rodas de conversa, oficinas de alimentação saudável e ações voltadas para grupos de risco (homens acima de certa faixa etária, com histórico familiar ou obesidade) têm sido promovidas. Isso reforça a necessidade de abordagens integradas que ultrapassem o foco exclusivo no exame de próstata. Pesquisas nacionais corroboram o papel da alimentação e do estado nutricional em aspectos do diagnóstico e evolução do câncer de próstata. Embora faltem estudos randomizados longos e conclusivos sobre intervenções dietéticas específicas, o consenso prático entre pesquisadores e sociedades médicas no Brasil é: promover dietas baseadas em alimentos in natura e minimamente processados e controlar obesidade como medidas de saúde pública.
DS

Daniela Stier

Redatora | Colunista MindSaúde

Daniela Stier é redatora e colunista da equipe MindSaúde, escritora e revisora textual, também trabalha com leitura crítica e escrita criativa.